Gastamos muita energia com quem não nos ama, com coisas de que não precisamos, com sentimentos que só nos atrasam o enriquecimento pessoal. Com isso, podemos perder a oportunidade de encontrar pessoas que nos amarão de verdade, de cultivar sentimentos positivos e edificantes, de contemplar a beleza do mundo, enfim, deixamos escapar a felicidade que se encontra ao nosso dispor, todos os dias.
Devemos conseguir lidar com toda a nossa bagagem corajosamente, libertar as amarras e os pesos inúteis, esquecer as lembranças dolorosas, pois só assim ficaremos prontos para receber o melhor que a vida nos reserva.
E, acredito, que existe muita coisa boa reservada para cada um de nós.
Por vezes é preciso discernimento para saber distinguir o que merece ser mantido e guardado dentro de nós a sete chaves e o que deve ser deixado para trás, longe das nossas vidas, distante da nossa alma.
Ficar a pensar naquilo que fizemos ou não, no que nos fizeram, naquilo que dissemos ou deixamos de dizer, os amores que se perderam, o que não foi mas deveria ter sido, sem digerir tudo isso e seguir em frente, apenas servirá como peso, como catalisador de tristeza. E pessoas tristes não avançam, não compartilham, não crescem e nem encontram um novo recomeço.
A nossa felicidade também depende dos reveses que nos vitimam, pois tornam-nos seres mais fortes.
Todas as dificuldades pelas quais passamos ajudam-nos a viver os momentos felizes com mais intensidade e clareza, pois, ao experimentar o gosto amargo da vida, seremos impelidos a procurar o sabor doce que os momentos certos e as pessoas amadas trazem consigo.
Muito já se falou e escreveu sobre a necessidade de nos desapegarmos de tudo o que não faz mais sentido nas nossas vidas e, mesmo assim, continuamos a acumular bagagem inútil.
Vamos retendo dentro de nós mágoas, ressentimentos, utopias, promessas vazias, alimentando o que já se foi.
Assim como os ambientes ficam intransitáveis, quando lotados de tralha, os nossos sentidos também não se conseguem renovar, quando estão perdidos no meio de sentimentos negativos guardados dentro de nós.
Por muito difícil que seja, é preciso deixar as coisas irem embora, que saiam de dentro de nós, para que possamos deixar o caminho livre para receber as novidades.
Não ando à procura de alguém que me complete.
Procuro alguém que me divirta, que me leve à loucura, que me tire do chão.
Porque completa?
Completa já eu sou...
É tão bom constatar que aquilo que um dia já nos incomodou, hoje já não nos atinge mais.
Não nos entristece, não nos aborrece, não nos tira o sono e nem o sorriso.
Já não tenho paciência para algumas coisas.
Não porque me tenha tornado arrogante, mas porque simplesmente cheguei a um ponto da minha vida em que não me apetece perder mais tempo com aquilo que me desagrada ou me fere.
Não tenho paciência para o cinismo, críticas em excesso ou exigências desmedidas.
Perdi a vontade de tentar agradar a quem não agrado, de amar quem não me ama e de sorrir para quem não me quer sorrir.
Já senti muita falta de alguém e nunca lhe disse.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena e já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia e já chorei até adormecer.
Já amei pessoas que me decepcionaram e já decepcionei pessoas que me amavam...
Mas acima de tudo, eu aprendi que o que importa na vida não é o que temos, mas sim quem temos.
No fluxo da vida, entre dores e curas, revisitando tristezas e alegrias, como um dia nublado, quando menos se espera, ela chega.
Toca a campainha da saudade, abre a porta da ausência e dá-te um abraço apertado.
Ela não foi convidada, mas mesmo assim a solidão vem e fica por um tempo.
Ser feliz sozinho é fácil, difícil é ficar triste na solidão.
Relembrando que o amor não é algo assim tão fácil de encontrar, como se vê nos filmes e nos livros.
O que ajuda, é a nossa capacidade quase infinita de suportar a dor,mas desde que haja esperança.
E porque o frio, o medo e a tristeza, passam. A dor também passa. Até o amor que foi embora passa.
Só não passa a vontade de amar outra vez.
E agora estou aqui, sentindo-me inteira.
Voltei a brilhar, o sangue pulsa nas minha veias.
Ando à descoberta de novos locais e de novas gentes, o mundo é cheio de infinitas possibilidades.
Porém, mesmo no auge das minhas mais novas descobertas e da confiança num dia melhor que o anterior, volta e meia, o medo aparece.
O medo sopra pela fresta da porta do meu quarto à noite, no seu silêncio secreto.
Mas não é aquele medo que dá quando nos deparamos sozinhos na plataforma de embarque rumo a um país desconhecido. E também não é aquele medo de ter outra cólica renal ou de levar um raspanete do chefe. Estes medos até os enfrento de peito aberto.
É aquele medo que dá quando as coisas se complicam, quando não encontro o sentido das coisas ao fim de dias longos e incertos. Quando o cansaço penetra nos ossos a ponto de derreter uma pessoa por dentro.
O medo de cair numa rotina mecânica de acordar, trabalhar, reclamar, pagar as contas e fazer parte da massa de cidadãos conformados deste mundo louco.
Este mundo que me obriga a assistir a gente a ser decapitada, gente a fugir à guerra, gente que não tem o que comer.
Este mundo que provoca o medo em sair de casa com receio de ser assaltado.
Este mundo que me obriga a assistir à falta de vergonha na cara de políticos que gozam com a minha inteligência.
Este mundo que me provoca o medo de apanhar a gripe!
O medo da espera pela chuva para encher rios e sentimentos.
E é no meio disto tudo, que descobri que ser uma pessoa completa dá um trabalho do caraças!
E mesmo sabendo que é um processo lento e interminável, mesmo estando focada em procurar a felicidade na minha jornada e não no meu destino, é nestas horas de silêncio no meu quarto à noite que acontece o imprevisto.
Um dia a porta da minha alma fechou-se.
A minha música parou de tocar.
Olhei pela janela enquanto o amor me deixava.
Podes ir, disse, e jurei que nunca mais sentiria aquela dor.
Andei pela casa com os cacos do meu coração, a última coisa que queria era amar outra vez.
Juntar os pedaços e fortalecer-me de novo é um processo que leva tempo, e a duração desse tempo é muito pessoal, assim como o tamanho da dor que cada um carrega.
É como estar viva, os órgãos e os sistemas do corpo funcionam, respiro, mas falta algo.
Falta vida no robô que junta os pedaços.
E foi assim, com muito esforço e angústias, que tropecei nos meus próprios pés, reaprendi a andar.
Os meus passos iluminaram-se com o meu brilho esmorecido.
Mas nunca parei, nunca desisti. Não sabia o que ia encontrar mais à frente, somente sabia que era para lá que tinha de ir.
Nem sempre achei aquilo que procurava. Algumas vezes, acabei por encontrar o que nunca imaginei encontrar.
Outras vezes, fui atrás de pessoas que me eram queridas e que dormiam nas minhas lembranças.
Por fim, encontrei a minha imagem que se escondia atrás do espelho.
"Se você não tiver força para impor as suas próprias condições à vida, deve aceitar as que ela lhe oferece."
S. Eliot
Peguei no carro, paguei o almoço, coloquei as cartas na mesa.
Sim, eu tenho o que costumam chamar de "amor próprio".
Amei-me. Amei-me muito. Amei-me acima de tudo.
E depois de me amar tanto, amei-me mais um pouco.
Amei-me sem maquilhagem e sem estar em forma, porque do que adianta os elogios de outra pessoa se eu mesma não conseguir sentir a minha beleza?
Vesti-me de coragem.
Convenci-me de que era incrível, e se eu não conseguir ser a minha própria advogada, é porque ainda não entendi o que é, verdadeira e intensamente, ser a mulher da minha vida.
Gastamos muita energia com quem não nos ama, com coisas de que não precisamos, com sentimentos que só nos atrasam o enriquecimento pessoal. Com isso, podemos perder a oportunidade de encontrar pessoas que nos amarão de verdade, de cultivar sentimentos positivos e edificantes, de contemplar a beleza do mundo, enfim, deixamos escapar a felicidade que se encontra ao nosso dispor, todos os dias.
